Discriminação pura

Nos últimos dias muita discussão têm suscitado os paineis que foram colocados ao longo da Av. da República (desconheço se foram colocados mais em outros locais).

2013-09-21 11.14.55 2013-09-21 11.16.22(fotos: Pedro Nóbrega da Costa)

Não vou entrar aqui na discussão de se os utilizadores de bicicleta devem ou não cumprir o Código da Estrada. Vou dar essa de mão beijada e sim, partir do princípio de que todos o devem fazer. E digo todos. Não só quem anda de bicicleta. Automobilistas, motociclistas, ciclistas, peões… o gato e o piriquito! Ora se é este o caso, não percebo o porquê destes cartazes… Já publiquei esta montagem no Facebook, mas aqui fica outra vez para quem não viu:

assim_sim

O que mais confusão me faz, é ver a ligeireza com que muita gente que anda de bicicleta, aceita e acha normal este tipo de cartaz (alguns até acham muito bem!!).

ISTO É DISCRIMINAÇÃO NEGATIVA!

Fica ao nível de qualquer cartaz a dizer “Cuidado com os carteiristas” ilustrado com um qualquer indivíduo de uma etnia específica – em geral uma minoria. Quem concorda com isto, faz-me lembrar alguns escravos que eram a favor da escravatura. (com as devidas ressalvas, uma vez que a gravidade de uma coisa é incomparável face à outra)

Durante muitos anos, não se viram bicicletas nas cidades. Automóveis passam vermelhos, excedem velocidade, estacionam mal e porcamente, os peões também passam vermelhos, enfim. Mas tudo está habituado a isso.

Agora chegaram as bicicletas, e a atenção está em cima delas. Vê-se um ciclista a passar um vermelho, mesmo que com cautela, da mesma maneira que os peões o fazem, e pimba! – “os ciclistas são todos uns irresponsáveis que não cumprem o CE”.

Por terras de “nossa majestade”, mais precisamente em Londres também reinava esta percepção – de que quem pegava numa bicicleta, se transformava imediatamente num tipo execrável que não respeitava ninguém… até que alguém se lembrou de fazer um estudo para tirar isto a pratos limpos… A entidade que o fez, não foi nenhum grupo ou associação obscura, liderada por um qualquer indivíduo de uma subcultura ciclística – foi a TfL (Transport for Londom, assim uma espécie de Autoridade Metropolitana dos Transportes de Londres, mas que coordena e manda mesmo nos transportes… a sério). Esta infografia foi feita a partir desse estudo:

glue-red-lights-infographics[1]

(fonte: http://smellslikeglue.com/2012/12/28/infographics-cycling-through-red-lights/)

Por isso fica a mensagem – querem apelar ao cumprimento do Código da Estrada?… fixe! Mas façam-no dirigido a todos! Ou especialmente àqueles que mais provocam acidentes mortais.

PS. Pelo que soube, à hora da publicação deste artigo, os painéis tinham sido todos retirados… fixe!

EDIT: publiquei há poucos minutos, e já as discussões estão ao rubro por todo o lado.

Por querer manter a discussão de fora, de se os ciclista cumprem ou não o CE, assumi que por princípio devemos cumprir. Ou seja, isso não está em discussão… o que está em discussão é se é legítimo ou não dirigir uma campanha destas aos ciclistas, quando todos os dias há dezenas de acidentes com feridos graves provocados por automobilistas que não cumprem o código da estrada.

Pergunto: quantos acidentes provocaram esses tais ciclistas prevaricadores? Quantos feridos? Quantos mortos?… é que se fizermos as mesmas perguntas, substituindo ciclistas por automobilistas, as respostas vão ter muitos dígitos! Infelizmente…

 

17 Respostas a “Discriminação pura

  1. Carlos diz:

    Isto vem da ideia de que os utilizadores de bicicleta são uma espécie estranha, um novo elemento invasor, que vem tirar espaço aos que já lá estão.
    Carros já pertencem no burgo, já as bicicletas se querem vir a pertencer o melhor é portarem-se bem.
    Cabe-nos a nós, utilizadores de bicicleta seguir o exemplo deste artigo e mostrar como isso não é apenas ridiculo mas também desfazado da realidade.
    Para mim o aumento da utilização da bicicleta deve ser visto como uma parte do movimento necessário de devolução das nossas cidades às pessoas, em detrimento, mas não em prejuízo, dos carros. Devemos lembrar aos automobilistas que quanto menos carros mais fácil será também para eles.

    • olimpio neto diz:

      eu na veijo as coisas tanto assim ,amigo Carlos, infelizmente acordamos sempre em ultimo lugar da Europa, no REINO UNIDO, SUIÇA, HOLANDA, etc,etc, os ciclistas têm ciclovias muito antes da segunda guerra, e nós só agora começamos a perceber que também, e embora com alguma dificuldade de ser uma cidade de 7 colinas, também podemos disfrutar deste belo vaiculo de duas rodas puxado a musculometro,como é natural eu e muitos ciclistas por vezes facilitamos as manobras, ou passamos um vermelho, ou fazemos inversão por cima de uma passadeira para como se fossemos um peão, se for de carro eu não arrisco passar o vermelho, ou tenho que procurar um sitio para fazer inversão , coisa que com a bike fazemos na boa em qualquer lugar, e não esquecer que o numero de vitimas de acidente de bicicletas infelizmente têm aumentado por falta de formçao tammbém as vezes dos ciclistas….

  2. Também deviam colocar em cada semáforo a seguinte indicação: Sr. Automobilista, lembre-se que o limite de velocidade dentro das localidades é de 50km/h.

  3. Rui Amaral diz:

    Penso que isto é uma reação à flor da pele.
    Quero com isto dizer que não colocamos a tónica no que devemos fazer mas sim se os outros também devem fazer.
    Os ciclistas têm que cumprir? Têm.
    Então, eu ciclista, não vejo porque o cartaz não deve ser colocado.
    Mas pode haver uma outra razão: há ciclistas que pensam que as regras não se lhe aplicam. Estive em Amsterdam há duas semanas (de bicicleta que aluguei) e a primeira coisa que me disseram foi: tem que cumprir as regras. Não faça como os holandeses que passam o sinal vermelho. Arrisca-se a ser multado.
    Se tivesse alugado um carro tinham-me dito isso?
    Claro que não.
    Acho que devemos colocar as nossas energias a lutar para que haja mais bicicletas na rua, respeitando carros, motas, etc e exigirmas que nos respeitem.

  4. Nuno Pereira diz:

    Eu como ciclista na cidade, também acho que o ênfase da mensagem devia ser no dever de cumprir o código.
    Aqueles 16% do Reino Unido em Portugal quase de certeza são mais elevados (como tudo :)), e criam uma imagem anti-ciclista. Claro que dá mais nas vistas passar vermelho que ficar parado, mas vejo imenso pessoal todos os dias a fazer isso. Para lá do andar nos passeios e dos contra-mão. Já chamei a atenção várias vezes a este pessoal, mas se calhar não fazia mal um pouco mais de fiscalização, ou mesmo de sinalização. Eu pessoalmente não conheço ninguém multado.
    Mas as autoridades podiam fazer mais:
    – Semáforos com limitadores de velocidade ou temporização para os carros não andarem a mais de 50km/h (como na Baixa);
    – Mais estacionamento legal para bicicletas, para não obstruírem passeios (sinais);
    – Alínea no código que permitisse a viragem à direita no vermelho das bicicletas, desde que todas as condições de segurança estivessem asseguradas.
    Abraço

  5. Zé da Conquilha diz:

    Mas…estão numa de virgens ofendidas? O que fazer quando um ciclista não respeita um semáforo vermelho e segue caminho, pondo-se em risco a ele e a quem, seja num veiculo motorizado ou a pé, se cruze com ele? Isto para não falar dos ciclistas que tanto estão na estrada, como saltam para um passeio e aproveitam o semáforo verde para peões para prosseguir a sua jornada…não querendo saber se o automobilista que, apesar de ver o sinal verde, não vislumbrou nenhum peão em iminência de atravessar e que tem de ter a velocidade de reacção para travar porque o ‘acelera’ surgiu, não se sabe de onde , e que em 2s está a atravessar a passadeira? Meditemos…

  6. Rodrigo diz:

    Não percebo este antagonismo contra os ciclistas… Parece-me que é inveja pura ou um conservadorismo absurdo!

    Alguém tem ideia de quem é/são os autores dos cartazes? Deviam assumi-lo para este assunto ser debatido abertamente.

    Eu ando de bicicleta todos os dias e não sou fundamentalista. Ando na estrada e nos passeios. Paro em alguns semáforos e passo outros, sempre com o objectivo de maximizar a minha segurança e a harmonia do trânsito.
    Mais vale um ciclista num passeio sem ninguém a subir do que o mesmo ciclista numa estrada a subir onde não consegue acompanhar o ritmo do trânsito e assim perturba o mesmo.
    Mais vale passar um semáforo vermelho num cruzamento conhecido e assim ganhar avanço aos carros do que partilhar o arranque com estes num semáforo e ficar sujeito a uma série de ultrapassagens que podem ser perigosas.

    As bicicletas devem conquistar o seu espaço por habituação e não por imposição.

    Cumprimentos

    • Zé da Conquilha diz:

      Não existe antagonismo per si contra os ciclistas…apenas contra o modus operandi da maioria quando se desloca na estrada.

      Conto três situações que ocorreram comigo e que de certa forma me deixaram ‘escaldado’:

      1) Num cruzamento com pouca visibilidade e com semáforos, acaba de cair o verde para mim e arranco normalmente…a meio do cruzamento, apresenta-se pela minha esquerda um ciclista a ‘alta velocidade’ e para não lhe bater, acabei por dar uma guinada no volante ao mesmo tempo que travo, por alguns centímetros não bati no carro parado no semáforo (também à esquerda) – o ciclista, envergando as roupinhas domingueiras da volta à Portugal, cheia de patrocínios do talho da esquina, nem sequer parou para ver se havia algum problema.

      2) Noutro semáforo, já parado, um ciclista passa pela direita e coloca-se em frente ao meu carro, ‘trancando-me’ (ok, faço o mesmo quando ando de moto, mas neste caso uma bicicleta não é uma mota) – quando cai o verde espero que o ciclista arranque e nada…buzino e sou prendado com sinal menos próprio com recurso ao dedo do meio. (a vontade era pará-lo com o para-choques e pedir para se explicar melhor…não o fiz)

      3) Os domingos de manhã são para esquecer…tudo o que é ciclista e ciclista-de-fim-de-semana estão na estrada…estrada com traço continuo e 3 ciclistas em amena cavaqueira um ao lado do outro com o 3º atrás volta a meia a mandar-se para o centro da via…tolera-se a coisa por 50m, mas ao fim dos quais a paciência começa a esgotar e lá vou eu mais uma vez recorrer ao claxon para chamar a atenção…afinal, pago e bem para andar na estrada (seguro do carro e IUC) – novamente consigo irritar os 3 ciclistas com impropérios e ‘middle-fingers’ esticados no ar.

      Portanto, o antagonismo que nutro por alguns não é mais que uma incompatibilidade comportamental…

      • TERESA lOPES diz:

        Desde Fevereiro de 2012 que uso a bicicleta como meio de transporte diário, trabalho, compras, passeio etc. pelo que facilmente faço 100kms ppr semana na cidade. e quero comentar também casos que aconteceram comigo:

        1 – A um sábado na av. José Malhoa, estando a faixa da esquerda livre e circulando eu na da direita um automobilista fez-me uma tangente buzinando aos meus ouvidos. Esta situação é recorrente em toda a cidade.

        2 – Na Rua Conde de Almoster, ainda foi mais engraçado, uma automobilista que tinha a faixa da esquerda livre também me fez uma tangente, mas alguns metros à frente se para se desviar de uma tampa de conduta das que estão colocadas na estrada, desviou-se completamente para a faixa da esquerda. Conclusão: atirar um ciclista ao chão não é importante mas passar por cima de um desnível da estrada sim! Pode amolgar a jante!

        3 – Na Pç de Espanha, vinda da Columbano parei no semáforo, mas de bicicleta e indo para a Av. de Berna, tento aproveitar os vermelhos para me posicionar na faixa correta, e fico à esquerda no sinal. Quando cai o vermelho para os carros da esquerda, arranco (nós não temos bike boxes).
        passo o meu no vermelho mas o transito já está parado, e um motociclista disse-me que o sinal era para cumprir. Replique que caso não arrancasse antes dos carros ia provocar um engarrafamento, e para meu espanto esse mesmo motociclista arrancou com o semáforo bem vermelho no cruzamento com a Av,. de Ceuta

        4 – As bikes podem circular na faixa de bus,, dependendo das câmaras. No entanto eu farto-me de ver e ir atrás de carros que circulam nas faixas de bus e não é para virar no entroncamento seguinte.

        Moral da história: Todos temos telhados de vidro, não atirem pedras aos outros

  7. José Cintra diz:

    Circular na via publica deveria ser reservado a quem sabe o código da estrada e disso faça prova com um titulo a esse fim destinado. Eu não sou pré-histórico, mas quando comecei a andar de Bicicleta tive que tirar uma licença para o efeito e fazer um teste para verificarem se eu sabia o código da estrada.
    Claro que quem é possuidor de qualquer carta de condução teve fazer exame de código, e está logicamente habilitado a andar na estrada com uma bicicleta. O que muitas vezes vejo, são miúdos que ainda não têm carta de condução, andando de bicicleta na faixa de rodagem de um modo incorrecto pondo em risco a sua integridade física e também dos outros utentes da estrada.
    Creio que me faço entender. Toda a gente deve cumprir as regras de transito, das quais devem ter conhecimento!
    CUMPRA O CÓDIGO! É PARA TODOS!

  8. Gato Lindo diz:

    Estive 3 anos na Holanda, a Meca, por assim dizer, e nunca vi tal coisa, mas ainda não vi aqui ciclovias como as que eu tinha lá. Pode ser que um dia…

  9. Gato Lindo diz:

    E podia passar nas passadeiras de peões e entrar em sentido contrário, todos os sentidos contrários tinham este sinal, http://www.trueamsterdam.com/wp-content/uploads/uitgezonderd-fietsers-199×300.jpg, sendo que uitgezonderd fietsen quer dizer “excepto bicicletas”. E até podia andar nos passeios, excepto na “rua direita” quando as lojas estavam abertas, Tudo heresias cá no burgo.

  10. Hugo Brandão diz:

    Esta placa ficava muito bem na minha sala.
    em que zona está para ir busca-la?

  11. anacanete diz:

    Vivo em Florença, Itália e apesar de algumas ciclovias estarem em condições lastimaveis (algumas foram recentemente recuperadas por causa do mundial de ciclismo), existem! O uso das bicicletas por ca também é tutelado, convivemos com o trafico e com as regras de trânsito e tenho a dizer que a situação aqui é muito semelhante à reportada pelo Gato Lindo. E não é por isso que os acidentes aumentam. Temos como grandes inimigos os taxis, mas estes são inimigos de todos (automobilistas, peões, motociclistas- que cá existem aos molhos…). Passar um sinal vermelho com as devidas precauções não é considerado crime, andar pelo passeio onde não existe via ciclavel é aceite por todos. Falta em Portugal a cultura da bicicleta!

  12. Pedro Pinheiro diz:

    Bom dia. A razão deste sinal é que ao contrario dos veículos a motor, os ciclistas não possuem matrícula, desta forma não ha forma de controlar. Se um veículo a motor passa um sinal vermelho é autuado, uma bicicleta já não. Além de que por cada 500 ciclistas que passem um vermelho, passa um veículo a motor. Não é descriminação mas sim prevenção. Os ciclistas por norma não sabem o código da estrada, as normas para se andar na estrada, e por isso tornam-se um perigo para todos, inclusive para eles mesmos. O sinal é pouco, na minha opinião como instrutor, como condutor e como ciclista digo que é uma abominação permitirem ciclistas a andar na estrada sem chapa de matrícula e sem noção do código. Até uma criança para tirar a licença para conduzir um motociclo aos 14 anos precisa de tirar o código, porque não haveriam dos ciclistas fazer o mesmo? Como ciclista recuso me a andar na estrada

    • Paulo Leal diz:

      “Como ciclista recuso me a andar na estrada”!? A bicicleta é para andar no mato ou nos passeios?
      Será estática?Já a todos nós nos apeteceu “chamar nomes” a alguém de bicicleta que vai a brincar com a sorte. E a automobilistas, não? É quase todos os dias.
      Quem é mais perigoso, o miúdo irresponsável de 14 anos de bicicleta que passa um vermelho ou o Sr. encartado que conduz a mais de 50 Km/h em zonas residênciais, que não abranda na proximidade de uma passadeira, que para em cima do passeio porque vai ser rápido, ou que faz razias a ciclistas que vão a cumprir o sagrado código da estrada?

  13. É incrível, como de tantos comentários nem só um se aproveita! É exactamente o mesmo comentário que fazem os graduados da GNR e o ministro que tutela está matéria. A culpa dos acidentes sempre é dos condutores.
    As estradas mal construídas, sem marcas, arbustos a tapar os sinais de trânsito, a falta de passeios em estradas nacionais mas residenciais, os buracos, falta de ciclovias etc etc etc. Mas nenhum dos vosso comentários vai nesta direção! O povo fala mas não sabe o que diz, é por isso porque sois todos tão previsíveis que muito antes eles já sabem quem ganham as eleições. Cada um tem o que merece e pelos vistos tudo o que vos acontece é pouco.
    Viva a bicicleta e aprevemcao que nela esta implícita, para além do contributo para a recuperação ambiental que vocês todos juntos aniquilaram.
    Vou vos contar: um aluno chega a casa e diz ao pai, a professora diz que à manhã tenho de levar o dicionário! O pai diz, o quê! Vais a pé que eu também ia.

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