Do Marquês a Copenhaga

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O Marquês de Pombal, é apontado sempre como um daqueles locais perigosos, onde muita gente tem medo de se aventurar. Verdade seja dita, para quem não tem qualquer prática, era preferível haver outra alternativa. Tal como ninguém imagina os seus filhos a pedalarem aqui (ou em qualquer outro lugar com algum tráfego automóvel ) Mas isso não quer dizer que não seja possível para muito boa gente – eu passo lá inúmeras vezes, e como podem ver pela foto, não sou o único!

Ando de bicicleta todos os dias, por estradas movimentadas. Mas nos locais onde a convivência com o automóvel é mais difícil, sou um acérrimo defensor de infraestruturas dedicadas para a bicicleta. Para mim a lógica devia ser, a criação de uma cidade onde os mais frágeis possam circular em segurança – seja a pé ou de bicicleta. E isso implica, reduzir a quantidade e a velocidade do tráfego automóvel, criar pistas cicláveis onde as mesmas façam sentido, previlegiar a pedonalidade e os outros modos suaves.

Chegou-me hoje ao conhecimento um artigo escrito pelo Jeremy Clarkson (sim aquele senhor do Top Gear, que só pensa em carros, e diz(ia) mal das bicicletas). Mas neste artigo, ele não só diz bem das bicicletas, como confessa que gostaria de viver em Copenhaga. Porquê? Acho que o conceito Cycle Chic, que em Copenhaga invade as ruas todas, teve alguma influência – para não dizer que fez toda a diferença:

“In Copenhagen it’s just a pleasant way of getting about. Nobody wears a helmet. Nobody wears high-visibility clothing. You just wear what you need to be wearing at your destination. For girls that appears to be very short skirts. And nobody rides their bike as if they’re in the Tour de France. This would make them sweaty and unattractive, so they travel just fast enough to maintain their balance (…) I’d live there in a heartbeat.”

Claro que toda a política urbana da cidade, convida a que assim seja. Mas quando alguém como ele, começa a falar assim das bicicletas, é um sinal de que os tempos estão a mudar – será que estes ventos de mudança irão chegar ao nosso país, e ouviremos declarações improváveis de quem menos se espera?

7 Respostas a “Do Marquês a Copenhaga

  1. Conan diz:

    Qualquer “acérrimo defensor de infraestruturas dedicadas para a bicicleta” está a pensar na lógica do carro e não a pensar em termos de mobilidade. Dentro das cidades tais infraestruturas não fazem muito sentido. Na sua maioria, roubam espaço ao peão. E nem quero pensar no desenho absurdo da maior parte delas, que parecem ser concebidas para desincentivar quem tiver a veleidade de experimentar essa coisa de andar de bicicleta na cidade. A cidade tem de ser redesenhada, se preciso fôr, eliminando as AE urbanas e obrigando todos os veículos a partilharem a mesma via. Além, é claro, de haver uma fiscalização implacável contra o estacionamento das bestas ao volante. Só assim se consegue “reduzir a quantidade e a velocidade do tráfego automóvel”. Com infraestruturas dedicadas o máximo que consegues é tirar as bicicletas da estrada, aumentando a quantidade e a velocidade do tráfego automóvel.

  2. Miguel diz:

    Sim, em última instância podemos sonhar com cidades onde os automóveis particulares não entram…
    Infelizmente tal não me parece o futuro próximo, e eu só defendo as infraestruturas dedicadas, nos casos onde a convivência não é possivel. E quando digo isto, não estou a dizer possível para mim – eu ando há 20 anos em Lisboa, circulo sem problemas em qualquer local da cidade, mesmo em sítios que muitos ciclistas experientes consideram como bem perigosos. Mas se queremos a bicicleta com um meio de transporte universal, temos de pensar em o tornar acessível a todos. Mesmo todos… crianças, idosos, etc… O modelo holandês sem dúvida, preferível ao modelo dinamarquês, onde a segregação existe, mas onde o império automóvel continua a reinar. Como diz o Mikael Colville-Andersen, a Holanda é o único país que se recusa a ignorar “the rampaging bull in society’s china shop” – o automóvel.

  3. Margarida diz:

    Ola, já sigo este blog a algum tempo e em resultado do video indicado pela catarina senti que tinha de comentar.
    A verdade é que vivi em copenhaga mais de 4 meses em Erasmus no semestre passado. O que tenho mais saudades é de longe das bicicletas, tudo o que aparece no video é verdade. Mas será que me arrisco a andar em lisboa?Nao! Acredito que para alguns seja possível ir de casa ao trabalho(ou faculdade) de bicicleta mas para muitos nao é (pelo menos de uma maneira tao comfortavel como em cph). As queridas colinas de Lisboa nao o possibilitam em muitos casos. Para além disso e embora a minha relativa experiência não confio o suficiente nos condutores portugueses, duvido que eles tivessem cuidado connosco como em Copenhaga têm. Na sua grande maioria nem perceberiam os sinais que os ciclistas fazem como substitutos dos piscas. Contudo, concordo que se deva tentar e acredito que no futuro as bicicletas sejam mais utilizadas, mas sejamos realistas nunca vai ser algo acessível a todos por mais que gostássemos. Há cidades que nao nascem para isso, lisboa é uma delas, com muita pena minha!

  4. Miguel diz:

    Margarida, compreendo essa posição. A “distância” entre Copenhaga e Lisboa é muita. Como referi antes, até prefiro o modelo Holandês ao Dinamarquês – o que ainda se traduz numa “distância” ainda maior.

    Quanto ao problema das colinas, já foi mais que falado, e desmistificado – sim, em alguns casos é um empecilho. Mas para a grande maioria das pessoas, é apenas um empecilho dentro da cabeça. Temos um clima fantástico, ao contrário dos climas que eles têm… O vento, como pudemos sentir nos últimos dias, pode transformar qualquer percurso plano, num obstáculo bem mais complicado do que uma subida entre os 5% e os 10% de inclinação. Por cá esses ventos são bem menos frequentes do que na Holanda. Se falarmos em chuva, um grande obstáculo para muita gente, por lá é bem mais frequente do que cá. Sim temos uns dias bem quentinhos no verão, mas em geral, as temperaturas são bem amenas, e muito mais prazenteiras para se andar de bicicleta. Muita coisa tem de mudar, mas o mais importante é mudar a cabeça das pessoas! Eles (Dinamarqueses e Holandeses) há 40 anos, tinham as cidades deles completamente rendidas ao automóvel – vale a pena ver o video que aqui publiquei, que mostra imagens desses tempos onde andar de bicicleta por lá, não era melhor do que por cá: https://lisboncyclechic.com/?p=2509

  5. Humberto diz:

    O tronco inclinado sobre a perna que emourra o pedal para baixo contrasta com a leveza do cabelo preso e a graça da bicicleta.
    No cesto transporta também a esperança que a vida seja mais que um desvario das troikas que nos aprisionam em cidades do carro e condenam ao empobrecimento.
    Porque a solução é pedalar, mesmo que longe de Copenhaga.
    Porque a saída é lutar contra os pactos de agressão!

  6. […] 19 de Maio poderemos de novo celebrar a bicicleta com hora marcada e todos juntos. Os eventos Lisboa Cycle Chic cumprem o destino de se afirmarem como uma marca também da cultura ciclista urbana alfacinha. […]

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