Turim & Milão

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Há cerca de um ano, estive em Turim. Não conhecia a cidade, e gostei imenso. Embora seja a “capital” italiana do automóvel (FIAT – Fabbrica Italiana Automobili Torino ), nos últimos tempos, muito tem sido feito para devolver o espaço urbano à pedonalidade. As ruas de comércio, estão sempre cheias de gente, apesar de não haver muitos locais onde estacionar (mais um mito que os nossos comerciantes teimam em insistir). Mas quando fecharam inúmeras praças ao tráfego e ao estacionamento automóvel, as reclamações foram muitas. Agora, não me parece que queiram recuar…  Há que haver coragem política para o fazer as mudanças.

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Apesar do mau tempo que apanhei durante a minha estadia, vi muita gente de bicicleta. Gente vestida normalmente, a pedalar com estilo e sem stress – o conceito Style over Speed, não é um exclusivo dinamarquês (Turim também já tem o seu blog Cycle Chic). Itália perdeu muito para o automóvel nas últimas décadas do sec. XX, mas a necessidade de uma mobilidade mais sustentável e a procura por cidades mais humanas, está a trazer o regresso natural da bicicleta – não só aqui, mas a quase todas as grandes cidades europeias. Fico triste ao ver que, em Portugal, esta mudança de paradigma esteja ainda tão lenta.

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Esta é uma imagem comum nos pátios de entrada dos prédios – bicicletas urbanas, que muita gente usa no seu dia-a-dia.

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No regresso, aproveitei para uma curta visita a Milão. Aqui já o panorama me pareceu diferente – o automóvel continua a ser rei e senhor. Imensas avenidas largas, autenticas vias rápidas em alguns casos, onde carros e motas, circulam a velocidades pouco amigas da bicicleta. Ainda assim, vi mais gente de bicicleta do que vejo no dia-a-dia em Lisboa:

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Têm por lá um sistema de bicicletas partilhadas – desconheço como o mesmo funciona, qual a sua dimensão e se o mesmo tem ou não sucesso. A realidade é que poucas pessoas vi a fazerem uso destas bicicletas. Quanto a blog Cycle Chic, creio que Milão ainda não tem, mas existe o Italian Cycle Chic.

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O que vi foram alguns exemplares lindíssimos:

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Não, não sou daqueles que passa a vida a dizer que lá fora é que é bom, que o que é Português não presta. Mas no que diz respeito à bicicleta, ainda estamos muito atrasados… Sim, fazem falta infraestruturas. Sim, faz falta um código da estrada melhor. Sim, há muito pouco civismo nas nossas estradas. Mas sabem que mais? O que vi nestas duas cidades italianas não era melhor do que Lisboa, no que diz respeito a condições para se andar de bicicleta. No entanto o que vi por lá, foi muito mais gente a andar de bicicleta do que cá. Está tudo nas nossas cabeças… do que estão à espera para usar (ainda mais) a bicicleta?

EDIT: Acabei de saber, que a cidade de Turim já tem um sistema de bike share, o [TO]Bike, e que o mesmo está a ser um grande sucesso. Continuamos à espera do tão anunciado sistema de Lisboa – acredito vivamente que este é um dos modos mais eficazes de promover o uso da bicicleta. (quando bem implementado, claro)

EDIT2: Sugiro a leitura dos comentários, pois a percepção que tive de Milão, ao que parece foi deturpada – talvez por azar, mas certamente pelo reduzido tempo que permaneci na cidade. Assim, aqui em baixo poderão ler as opiniões de quem conhece melhor a cidade do que eu.

11 Respostas a “Turim & Milão

  1. Joana diz:

    queria só fazer uma sugestão: fazerem uma FAQzinha sobre andar de bicicleta em Lisboa. há montes de gente que tem dúvidas sobre isto, inclusivé eu. se é obrigatório usar reflectores, ou capacete, se há problema se andarmos em passeios, ou em contramão, ou sei lá… não sei como é que funciona o código da estrada em relação às bicicletas. os condutores ainda são tão loucos que tenho medo de andar de bicicleta na estrada, especialmente na faixa com o mesmo sentido de trânsito.

  2. @Joana: Já é de 2007, mas enquanto não há uma versão mais recente, aqui fica: O CÓDIGO DA ESTRADA E OS VELOCÍPEDES – Perguntas Frequentes. Uma versão mais simplificada, e mais recente, está disponível aqui: Introdução ao Código da Estrada para Ciclistas – Perguntas Frequentes (Versão júnior 1.0 de 18/02/2009)

    Para esclarecer dúvidas e pedir conselhos quanto a andar de bicicleta em Lisboa, vai à lista da Bicicletada, que está cheia de gente disposta a ajudar. 🙂 E a MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta também tem iniciativas direccionadas a pessoas na mesma situação. O site com estas informações está anunciado para dia 1 de Fevereiro em http://mubi.pt.

    Boas pedaladas!

  3. Miguel diz:

    Obrigado Joana pela sugestão, e obrigado Ana pela resposta.

    Realmente está para breve um Guia Cycle Chic para Cidade de Lisboa. Responderá a algumas das tuas questões, e será acima de tudo, um pequeno guia para quem quer começar a pedalar (e também para quem já pedala) na cidade de Lisboa – como sempre, com estilo e sem stress…

    Já agora Joana, em relação à “questão” que colocas no teu blog… de início, dói sempre um pouco 😉 é como quem começa a usar uns sapatos novos, mas ao fim de umas tantas vezes, já não é assim desconfortável – claro que um bom selim, bem desenhado e adequado à geometria da nossa bacia faz diferença… mas isso já será matéria para outro artigo.

  4. Joana diz:

    Obrigada aos dois! 🙂

    Quando me mudar para o centro de Lisboa faço um bom investimento. Quem sabe se ainda não apareço aqui no blog a pedalar :p

  5. Vera diz:

    Lisboa é a cidade das Sete Colinas…por algum motivo não se vê muitas pessoas a andar de bicicleta no dia a dia cmo nas outras Capitais Europeias. Por exemplo conheço bem a cidade da Marinha Grande, e sei que a bicicleta é muito utilizada, talvez por serem pisos mais direitos, sem “colinas” como em Lisboa!

  6. Miguel diz:

    Vera, em relação às 7 colinas de Lisboa, já muito foi falado. Pode ler este meu artigo numa outra “loja” (http://velocipedia.blogspot.com/2010/10/lisboa-e-sao-francisco-diferenca-esta.html)

    Veja também esta entrevista (http://www.youtube.com/watch?v=74God8gFh80) ao Paulo Guerra dos Santos sobre o seu projecto 100 dias em bicicleta (http://100diasdebicicletaemlisboa.blogspot.com)

    As colinas correspondem a 10-15% da cidade, e em 65% é basicamente plana.

  7. Tomás diz:

    Desculpa lá, mas tu ao escreveres “Ainda assim, vi mais gente de bicicleta do que vejo no dia-a-dia em Lisboa:” dá a entender que há algumas bicicletas, já que em Lisboa não há quase nenhuma, o que é absolutamente mentira.

    No centro vês imensas bicicletas, e mesmo algo longe do centro, e é daquelas cidades em que vês estacionamentos cheios de bicicletas, e bicicletas nos postes.

  8. Miguel diz:

    Tomás, como referi, estive em Milão há cerca de um ano. Estive apenas um dia lá, e andei no centro. Vi bicicletas sim, mais do que em Lisboa, mas não achei nada de significativo. Em Turim, havia muito mais gente a pedalar.

    Agora estou a falar da percepção que tive, da visita que fiz, há um ano atrás. Como é óbvio, o que é muito para uns é pouco para outros. É frequente virem pessoas falar comigo, a dizer que “Lisboa agora já tem muita gente a andar de bicicleta”, e quando lhes pergunto para definirem o “muito”, respondem-me: “opá, só hoje, devo-me ter cruzado com uns 4 ou 5″…

    Acredito que Milão tenha muita gente a andar de bicicleta – mas quando lá fui, não foi isso que constatei. O que vi foi uma cidade onde o automóvel era “rei e senhor”.

    Lisboa tem poucas… e é isso que queremos que mude! Já ficava contente, que durante a semana, no meio da cidade víssemos tantas pessoas de bicicleta, como se vê na zona ribeirinha ao fim de semana.

  9. Marta diz:

    Meu caro amigo, desculpe lá desapontá-lo, mas Milão não é uma cidade onde o carro é rei e senhor. Sei do que falo, estive seis meses em Milão, em Erasmus.

    Fiquei numa zona afastada do centro, o que em Lisboa significa o domínio dos carros, estacionamento gratuito e em cima dos passeios, num pequeno prédio, com um pátio onde se guardavam imensas bicicletas dos moradores, para o seu uso diário.

    Gostava mesmo de saber por onde andou, esteve mesmo no centro, junto da Duomo? Se passear nessa zona, que se prolonga a grande distância, depara-se com uma cidade cuidada, passeios largos, muitas pessoas, muito comércio, praticamente sem a existência estacionamento, elétricos, e várias e várias bicicletas a circular, muitas presas aos postes e mesmo os carros que passam, fazem-no a baixa velocidade. Ou será que a sua passagem curta por Milão foi também dar uma voltinha de carro?

    Acha que o “muitas bicicletas” que me refiro são as 4 ou 5 que disse no último comentário? Era capaz de ver esses 4 e 5 com um zero à frente, isso sim.

    Peço desculpa, mas não é de todo aceitável o senhor publicar no seu blogue, que presumo que tenha muitos leitores, impressões completamente erradas de uma cidade.

    E ainda o “O que vi nestas duas cidades italianas não era melhor do que Lisboa, no que diz respeito a condições para se andar de bicicleta” é ridículo, não acha que uma cidade onde os carros respeitam verdadeiramente as velocidades, onde as ruas não têm um exagerado número de vias, e onde os automobilistas já estão habituados a conviver com elas, oferece melhores condições ao uso de bicicleta? Eu compreendo que queira incentivar os portugueses a utilizarem a bicicleta, mas, por favor, não o faça com este tipo de argumentos, só lhe fica mal.

  10. Miguel diz:

    Marta, a resposta que dei ao Tomás, mantém-se para si. Estive um dia em Milão, onde andei a pé e de transportes públicos. E mantenho muitas das coisas que disse, tendo em conta a percepção que tive da cidade. Ainda bem que as coisas são melhores do que a ideia que retirei quando lá estive. Ainda bem que as pessoas podem expôr as suas opiniões livremente, para que todos possam retirar o máximo de informação possível. Concordo plenamente quando diz que os automobilistas quando se habituam a conviver com bicicletas, se comportam melhor – vamos dar ao que eu disse depois: “No entanto o que vi por lá, foi muito mais gente a andar de bicicleta do que cá.” Essa é a grande diferença.

    Quanto mais gente houver a andar de bicicleta, melhores condições teremos para o fazer… Claro que há muita coisa a melhorar por cá – mas se ficamos à espera que o façam, sem andarmos de bicicleta, certamente será mais difícil observar essa mudança – obrigado pelas críticas – é com elas que melhoramos. Vou aproveitar e colocar no artigo uma chamada de antenção para os comentários, para que a ideia com que eu fiquei de Milão, não “contamine” a ideia de quem não conhece a cidade.

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